NOTÍCIA

GEE22

Autor

Leticia Scudeiro

Publicado em 19/08/2022

“Não se faz educação antirracista sem letramento racial”

Janine Rodrigues, Iracema Nascimento e Chirley Pankará debatem sobre como incluir uma educação antirracista nas escolas

Estereótipos raciais ainda estão enraizados na população o que dificulta a efetivação da educação antirracista, destaca Janine Rodrigues, escritora e educadora especialista em diversidade, educação e ESG.

“Não vamos conseguir fazer educação antirracista sem entender o nosso passado e sem construir o letramento racial para os educadores, professores e estudantes. Quando a gente olha de uma maneira mais ampla, o letramento trata do uso dessa língua de uma maneira eficaz. Não é só ler e escrever. Quando aprendemos o seu conceito, ele é, na verdade, o uso competente da leitura e da escrita. Dentro disso, o letramento racial é um conjunto de práticas que vai nos ajudar a desconstruir formas racistas de pensar, porque o Brasil foi letrado a partir de um conceito, uma história e uma prática racista. Precisamos ser letrados racialmente para desconstruir e reconstruir esses nossos olhares e opiniões, para podermos pensar em uma educação de libertação baseada em análise crítica. Aí, sim, fazer uma educação antirracista válida e eficaz que vai perdurar”, frisa Janine Rodrigues.


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Janine foi uma das palestrantes do painel Como incluir uma educação antirracista, no Grande Encontro da Educação, realizado pela Revista Educação e Revista Ensino Superior, que ocorreu de forma presencial e online, entre 16 e 19 de agosto. Ela destacou que conhecer a história do Brasil, as leis existentes e inserir o letramento racial na educação são caminhos básicos para que a educação antirracista seja uma realidade.

Implementação da educação antirracista

A educação antirracista precisa ser permanente para obter efeito. Esse é o posicionamento de Iracema Nascimento, pesquisadora da gestão democrática da educação e diversidade, e professora doutora de graduação e pós-graduação na Faculdade de Educação da USP – além de membra do conselho editorial da revista Educação – e que também participou do painel.

“O racismo é estrutural, ele estrutura a sociedade brasileira, portanto, está presente em todos os espaços e relações sociais. Não existe nem uma escola no Brasil que não seja racista (no sentido de ser perpassada por racismo), então primeiro temos que reconhecer a sua existência e a partir desse conhecimento assumir um compromisso ético de contribuir para o seu enfrentamento”, destaca Iracema Nascimento.

Iracema pontuou que os materiais didáticos precisam representar pessoas negras de forma positiva e as escolas tem o dever de incluir pessoas negras em cargos de lideranças, seja na coordenação ou gestão.

“Devemos combater o fato histórico de que normalmente as pessoas negras estão em posições subalternas. Na educação, na questão da mentalidade e da representação, isso é péssimo, porque crianças brancas e negras são educadas em um contexto em que elas sempre vão ver pessoas negras em posições subalternas. Então a escola comprometida com a educação antirracista vai virar essa chave e possibilitar pessoas negras em funções de prestígio, de comando e de liderança”, orientou Iracema.

Basta de superficialidade

Chirley Pankará, primeira indígena codeputada estadual da Alesp, pedagoga e doutoranda em antropologia social que também participou do painel, vai na linha de Iracema ao colocar a necessidade de um planejamento mais fundamentado com materiais didáticos fiéis às diversidades.

“O estado tem que ter essa responsabilidade e trazer materiais adequados, escritos pelos próprios povos indígenas ou compartilhados com eles para saber se o conteúdo está adequado, se ele [o conteúdo], não inviabiliza a gente mais ainda, porque tem coisas que ele traz que nos invisibiliza, por exemplo, quando a gente pinta as crianças dia 19 de abril e diz que é Dia do Índio, isso só reforça estereótipos”, reflete a liderança indígena.

Escute nosso episódio de podcast:


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