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“Escolas do Sudeste focam na formação do cidadão contemporâneo; as do Nordeste de olho na ascensão social”

Tecnologia a serviço da educação e não protagonista nas escolas, impacto da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e novo ensino médio nas editoras e a relevância de temas como diversidade e inclusão são os destaques da entrevista com José Henrique Melo, graduado em matemática e […]

Publicado em 10/05/2022

por Redação revista Educação

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Tecnologia a serviço da educação e não protagonista nas escolas, impacto da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e novo ensino médio nas editoras e a relevância de temas como diversidade e inclusão são os destaques da entrevista com José Henrique Melo, graduado em matemática e diretor-geral da Santillana Educação, empresa da Santillana com foco no mercado privado. 

Indagado sobre pontos em comuns entre as mais de 5 mil escolas que a empresa atua, José rebate que há claras particularidades regionais. Confira.

No ambiente educacional, o papel da tecnologia digital não está sendo considerado demasiadamente importante?

Acredito que o destaque que está sendo dado para a tecnologia hoje é adequado. Necessário e adequado. Houve um tempo em que se falou muito da tecnologia pela tecnologia, e hoje, o que todos têm trabalhado na escola, é a tecnologia a serviço da aprendizagem do aluno. Nesse sentido, a tecnologia está encontrando o lugar em que ela deveria estar: a serviço da educação e não como protagonista da educação. E talvez na pandemia ela tenha ganhado um protagonismo maior, mas voltou um pouco ao equilíbrio agora. Eu vejo mais de uma maneira equilibrada hoje.

Em relação à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e ao novo ensino médio, qual o impacto dessas leis nas empresas e nas editoras? Você enxerga como um novo recomeço? A adaptação foi rápida?

O ensino médio é um grande problema na educação básica, nós temos uma evasão muito grande. Do final do fundamental para o médio continua existindo uma saída de alunos das escolas em geral, então ele precisava mesmo de uma revisão e a reforma veio para atender isso, para poder trabalhar a questão do aluno com um pouco mais de flexibilidade na escolha do conteúdo e tem muita coisa interessante dos itinerários formativos, como a questão do próprio projeto de vida para apoiar o aluno neste momento, que é um momento difícil, um momento de amadurecimento, de escolha, escolha da profissão, da carreira.

Sinto que as escolas ainda possuem muitas dúvidas em como implementar e como está sendo essa implementação gradual da BNCC e, nesse aspecto, as empresas e as editoras têm muito a apoiar. Nós estudamos e trabalhamos muito para ter uma oferta já neste ano nas escolas. Na verdade, estamos com três ofertas diferentes para 2023, estamos lançando uma nova oferta 100% digital e personalizada para o aluno. Então o ensino médio, a reforma, abriu uma nova oportunidade para as escolas melhorarem e tentarem reter o aluno, e uma possibilidade também para as editoras de renovar na construção dos materiais para atender a nova BNCC.

Essa mudança, a adaptação da lei, foi grande para empresas de livros e materiais didáticos?

Ela foi grande, o impacto foi mais significativo no ensino médio do que nos demais ciclos escolares e segmentos. O ensino médio foi uma reforma mais profunda.

Vocês atendem mais de 5 mil escolas por todo o país.  Consegue notar pontos em comum entre elas, no sentido dos desafios? Dentre todas, tem uma dor geral que seja possível pontuar?

É muito diverso o universo. O mercado privado tem quase 40 mil escolas no Brasil, então as diferenças são muito grandes. As diferenças regionais influenciam muito, então as dores, as necessidades e até a forma de trabalhar das escolas são muito diferentes.

Existe uma característica no Sudeste, por exemplo, de buscar algo, de trabalhar a formação do cidadão contemporâneo e a formação do ser humano, é um trabalho muito focado em formação, enquanto, por exemplo, quando falamos no Nordeste, existe um trabalho muito focado na questão da aprovação nos vestibulares e de levar os alunos para as melhores universidades, para a ascensão social e para ascensão econômica. Então regionalmente os desafios são muito diferentes, não tem uma dor comum, tem um processo todo de adaptação.

Nas escolas hoje há o uso mais frequente de tecnologia, que aconteceu durante a pandemia, que foi forçado, tendo um processo de aprendizagem, talvez, pontuando, o melhor uso da tecnologia a serviço da aprendizagem seja uma dor comum.

As editoras, no geral, estão preocupadas com questões como diversidade, inclusão e crise ambiental? Mudou algo dos 15 anos para hoje?

Mudou muito. Acho que existe uma preocupação muito grande nesses três pontos que entraram em uma pauta mundial das empresas de alguma maneira, e isso já chegou nas editoras também, e para nós é uma pauta muito natural. Por exemplo, a questão da sustentabilidade é uma pauta muito natural porque na montagem do currículo e dos conteúdos que entregamos sempre temos esse cuidado. Trabalhar a questão ambiental não só nas áreas de ciências, mas na questão da educação mesmo.

A inclusão e a questão da diversidade também sempre aparecem muito marcadas nos conteúdos, e eu acredito que isso tenha uma relação até com o próprio Ministério da Educação e com o Conselho Nacional de Educação. Desde a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional], lá atrás, isso já estava muito bem pautado, deveria estar presentes nos livros: as questões ambientais, diversidade, respeito, mulher no mercado de trabalho, não discriminação de qualquer natureza e das famílias não tradicionais, vamos dizer assim.

E isso era uma pauta para você aprovar um livro no governo.

O livro no mercado privado não tem que ser aprovado, mas como trabalhamos com bases de conteúdos parecidas, esse cuidado foi sendo cada vez mais natural, cada vez mais não só na cabeça do editor ou na cabeça do autor, tanto que, comparando livros de outros países com os da América Latina, o cuidado editorial com essas questões no Brasil é superior.

Possivelmente, desde o ano passado, vocês estão com um novo posicionamento estratégico, tanto que estão com a Santillana no mercado privado e a Moderna no público. Mesmo com crise nos diversos setores, a que se deve a meta de dobrar o faturamento até 2025?

Quando olhamos para a nossa história, sempre teve a liderança no mercado privado do livro, porém o modelo de adoção do livro foi um modelo que desde 2012 e 2013 foi diminuindo a participação no mercado, enquanto aumentavam a participação de modelos de contratos com as escolas. Vamos dizer assim, os chamados sistemas de ensino, mas que, no fundo, são um modelo de contrato para a venda direta para a escola. Nesse modelo de contrato, até 2016 só tínhamos dois negócios: UNO e Compartilha e tinha participação pequena neste mercado.

Como o mercado foi invertendo, começamos a ser líderes no mercado pequeno, com uma participação pequena em um mercado grande, então para manter a relevância da empresa precisávamos seguir crescendo a passos árduos.

Tivemos um salto muito grande de 2019 para 2020 e de 2020 para 2021 ficamos mais ou menos nesse estágio com a questão da pandemia, porque foi um momento que as escolas não trocaram os materiais que estavam usando, enfim, elas não se arriscaram e perderam muitos alunos, não sei…

Se você viu o censo que o Inep publicou no começo do ano, que a escola privada perdeu 1 milhão de alunos de 2019 até 2021, esses alunos não foram para a escola pública, foram para casa, porque a saída de alunos foi muito concentrada na creche, na pré-escola e nos anos iniciais do ensino fundamental 1.

Por isso, para manter nossa relevância no mercado e para aumentar a nossa rentabilidade, gerar ação de valor para os nossos acionistas, a nossa alternativa é crescer forte nos próximos anos, então marcamos um objetivo de crescer 20% ao ano em quatro anos.

De 2021 para 2022 conseguimos esse crescimento e é um esforço muito grande porque é um crescimento orgânico. Enquanto nossos concorrentes estão adquirindo aquisições nós estamos tentando ter um crescimento orgânico.

Para este ano estamos lançando três novos produtos no nosso portfólio, já temos 13 produtos distintos, ofertas distintas para as escolas, e estamos lançando esses novos produtos para continuar o trabalho de crescimento e de cumprir os objetivos da empresa até 2025.


Obs.: A Educação fará uma cobertura especial durante toda a Bett Brasil 2022. Nos acompanhe por aqui e em nossas redes sociais.


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Redação revista Educação


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