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Cultura oceânica precisa entrar nas escolas

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2021-2030 como a Década da Ciência Ocêanica para o Desenvolvimento Sustentável. Serão 10 anos de esforços conjuntos de governos, setor privado e sociedade civil de todo o mundo com o objetivo de buscar “um mar limpo, seguro, saudável, produtivo e sustentável”

Publicado em 23/11/2021

por Alfredo Nastari

redimensionada 05 Foto: Dan Toomey/Pexels

Se fôssemos fiéis à nossa natureza, o planeta deveria se chamar Oceano e não Terra. Afinal, 71% da sua superfície é recoberta por água, 97% dela encontrada nos mares, na sua versão salgada (apenas 3% de toda água do planeta é doce e está presente nos rios, lagos, aquíferos ou em geleiras).  

Não é por outra razão que o oceano é o principal ecossistema do planeta. Ele molda a vida na Terra; regula o clima ao distribuir temperaturas, ventos e chuvas; produz oxigênio e sequestra CO2 mais que qualquer cobertura vegetal; é fonte de inspiração, lazer e revigoramento para nossas existências. 

Não é exagero dizer que, em tempos da calamidade climática que nos ronda, nossa sorte como espécie será decidida no mar.

Do que formos capazes de fazer para preservar a vida, as condições físicas, e o coração sujo e cansado do oceano dependerá de nosso sucesso na luta contra as mudanças climáticas e, em última análise, nossa própria sobrevivência.  Poluição, sobre-exploração de recursos vivos e minerais, aquecimento e acidificação das águas e ocupação desordenada das zonas costeiras, por exemplo, lideram a lista de vilões que estão transformando nossos mares em re­giões desérticas, desprovidas de vida, tóxicas.


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Plástico em nossa mesa

E isso tudo é provocado por nós mesmos, mas com consequências longe dos nossos olhos.  A degradação do ocea­no começa, sobretudo, em cada pequena atitude cotidiana nossa: no plástico descartável que consumimos, no lixo que não reciclamos, nos gases eliminados pelo escapamento dos nossos carros, naquilo que comemos e consumimos….é uma lista interminável.

Além disso, o oceano nos devolve nossas ações na forma de eventos e anormalidades climáticas cada vez mais extremas, impactos nas populações costeiras, fome e envenenamento. O plástico, metais pesados e fármacos que despendemos no oceano, por exemplo, já entraram na cadeia alimentar e estão voltando para nossa mesa em muitos dos peixes e frutos do mar que ingerimos.

Diante desta situação alarmante, em 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos 2021-2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, nome completo para Década do Oceano. Em resumo, serão 10 anos de esforços conjuntos de governos, setor privado e da sociedade civil de todo o mundo com o objetivo de buscar “um mar limpo, seguro, saudável, produtivo e sustentável”.

Educação

Nesse sentido, isso nos remete obrigatoriamente para o campo da educação. A saber, desde 2002, quando foi formulado pela primeira vez nos Estados Unidos, toma corpo pelo mundo o conceito de ocean-literacy, letramento ou alfabetização oceânica ao pé da letra, que aqui ganhou a tradução de cultura oceânica.

Há quase 20 anos pesquisadores, ocea­nógrafos, educadores e ambientalistas começaram a se dar conta do desconhecimento das pessoas sobre como suas vidas impactam o oceano e como o oceano impacta suas vidas – o conceito essencial da cultura oceânica – e como as questões ligadas ao oceano estão ausentes dos currículos e materiais escolares dos diferentes níveis, gerando um mar de desconhecimento e consequente falta de ação, engajamento e empatia.

Alfabetização oceânica

Desde então, um movimento mundial de alfabetização oceânica vem se espalhando pelo mundo, principalmente com a formação de associações de educadores voltados para as ciências do mar em países como Canadá, Austrália, Portugal, Itália, Suécia, Noruega (e, por extensão, toda a União Europeia), China e Japão, para citar alguns. 

Com a instituição da Década do Oceano, a Unesco tomou para si a missão de estimular a cultura oceânica pelo mundo, principalmente nas escolas, de forma a criar ao final de 10 anos uma geração azul, jovens conscientes e engajados na causa dos oceanos, capazes de fazer a diferença daqui para a frente. Para isso, publicou no final de 2020 o Guia Cultura Oceânica para Todos, que sintetiza o conceito, história e princípios da ocean-literacy, além de fornecer vários exemplos práticos para atividades em sala de aula, que pode ser obtido no link https://pt.unesco.org/news/cultura-oceanica-todos, cuja leitura certamente é recomendada a todos os educadores.

No Brasil, ainda estamos engatinhando, mas já começam a pipocar várias iniciativas. Nesse sentido, o órgão centralizador dessas ações é a CIRM (Comissão Interministerial para Recursos do Mar), que tem um grupo de trabalho dedicado à difusão da mentalidade marítima, que é como chamam a cultura oceânica, inclusive com conteúdos educacionais. Mas ainda é muito pouco: a iniciativa e o protagonismo deveriam ser dos educadores dos diversos níveis e áreas do conhecimento – das ciências da natureza, às artes e às linguagens – para que o mar seja efetivamente compreendido e vivido em nosso próprio benefício.



Os princípios essenciais da cultura oceânica segundo a Unesco

1) A Terra tem um oceano global e muito diverso

2) O oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra

3) O oceano exerce uma influência importante no clima

4) O oceano permite que a Terra seja habitável

5) O oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas

6) O oceano e a humanidade estão fortemente interligados

7) Há muito por descobrir e explorar no oceano



*Alfredo Nastari é jornalista e criador do projeto Midia Mar, onde escreve sobre cultura oceânica

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Autor

Alfredo Nastari


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