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Edição 257

Pesquisadora questiona o senso comum que vê o aumento da violência escolar

Em entrevista, Telma Vinha, professora na Unicamp e pesquisadora sobre violência no ambiente escolar faz uma análise sobre o fenômeno

Publicado em 08/05/2019

por Redacao

especialista-violencia-escolar “Claro que existe violência escolar, mas em menor número do que o alardeado” (foto: Antonio Perri/SEC-Unicamp)

Por Maria Picarelli: A violência na escola é um fenômeno que precisa ser analisado com cuidado. Esta é a opinião da professora da Faculdade de Educação da Unicamp Telma Vinha, que estuda e realizou diversas pesquisas sobre o fenômeno.

Segundo ela, a percepção de que a violência escolar está aumentando relaciona-se à falta de diferenciação dos diversos problemas de convivência. A saída, afirma, não é simples, nem existe uma fórmula única, mas ela é possível, a partir do momento em que as escolas abram canais de comunicação e envolvam estudantes e as equipes pedagógicas em ações alinhadas com suas demandas e necessidades.


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A violência é, de fato, disseminada nas escolas públicas brasileiras?

O problema do aumento da violência escolar, principalmente em escolas públicas, é controverso e necessita de análise cuidadosa. As violências “duras” são aquelas reguladas pelo Código Penal, como lesões, extorsão, tráfico de droga, agressões físicas, roubo etc. E, ao contrário da percepção vigente, alguns estudos indicam que, na média, não há aumento da incidência de violência dura.

Porém, há o crescimento de outro tipo de conflito: as “incivilidades”, particularmente as pequenas infrações que se repetem constantemente, agressões verbais, insultos, provocações e desrespeito.

Um exemplo são os resultados divulgados pela Fundação Lemann e pela Meritt Informação Educacional a partir dos dados da Prova Brasil que mostrou que, em 2011, 1,9% dos docentes respondeu ter sido agredido fisicamente por estudantes dentro de colégios, índice inferior aos 2,3% de 2007. Porcentagem parecida foi encontrada entre os docentes que relataram casos de agressão física contra alunos cometida por professores na escola em que atuavam (1,5% em 2011 e 1,62% em 2007).

Esses resultados, entre outros, indicam que, na média, não houve aumento desse tipo de violência em cinco anos. Claro que existe violência escolar, mas em menor número do que o alardeado. Sua maior incidência é encontrada, principalmente, em algumas unidades escolares de grandes centros.

Então, por que essa percepção generalizada de aumento da violência escolar?

A resposta pode estar na falta de diferenciação dos diferentes problemas de convivência (incivilidades, transgressão, indisciplina, bullying…), sendo todos considerados violência.
Cada problema de convivência tem suas especificidades e requer intervenções diferenciadas. Essa indiferenciação gera alarmismos e incentiva medidas coercitivas e controladoras, como, por exemplo, a contratação de empresas de segurança, instalação de filmadoras e parcerias com as secretarias de Segurança ou com o Exército na gestão das escolas, buscando-se na atuação policial o que caberia às escolas.

Assim, elas são desqualificadas em seu papel de formar para a cidadania e destituídas de sua função pedagógica de promover a aprendizagem da convivência democrática. Essa questão é séria e precisa ser discutida pela comunidade escolar e pela sociedade, porque influencia diretamente a formação que queremos oferecer para nossas crianças e jovens.

O que a evidência científica nos diz sobre o que funciona na prevenção e superação da violência na escola?

A violência escolar é uma situação complexa e para lidar com ela não se podem buscar medidas reducionistas e pontuais, tais como, mais regras, fiscalização, policiamento intensivo, maior rigor na aplicação das sanções ou contratação de mais funcionários como inspetores e psicólogos. Muitas vezes há uma “espiral” negativa ou positiva que se retroalimenta formada por vários fatores. É preciso romper essa espiral com diversas ações, de maneira a transformar a cultura na instituição.

Algumas medidas parecem contribuir para mudança e prevenção da violência contra a autoridade, que tanto estressam e desmotivam os docentes. Mas é preciso, reconhecer que não existe uma receita “simples” que funcione automaticamente, porque os princípios mais eficazes de enfrentamento exigem uma adaptação em função do contexto, das características do grupo de alunos, da personalidade e estilo do professor e da história vivida.

Entre elas, podemos citar: planejar e desenvolver a aula de modo a favorecer a atenção dos alunos, criar alternativas positivas para que o aluno consiga o que quer, sem precisar agir de maneira violenta e ensinar que esse comportamento não será tolerado.

Também é importante envolver os alunos na elaboração e aplicação de regras, a partir de necessidades. Essa conduta costuma reduzir o comportamento disruptivo que deixa de ser percebido como uma desobediência à autoridade, sendo visto como uma deslealdade com o grupo ao qual querem pertencer. Para tanto é muito útil a implantação de assembleias ou rodas de diálogo para resolver os conflitos.

Além disso, os conflitos podem ser usados como uma oportunidade de resolver conflitos. Medidas corretivas devem ser inseridas num esquema de resolução de conflitos. E, nos casos mais difíceis, é válido contar com uma equipe mediadora.

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