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Políticas Públicas

Educação alimentar para um mundo mais justo: o papel da escola

Professores da rede pública municipal de Águas de Lindoia, SP — cidade com cerca de 20 mil habitantes que se tornou conhecida como uma das principais estâncias hidrominerais do Brasil — , iniciaram em abril um curso sobre educação alimentar desenvolvido por pesquisadores da Universidade […]

Publicado em 10/04/2023

por Sérgio Rizzo

Professores da rede pública municipal de Águas de Lindoia, SP — cidade com cerca de 20 mil habitantes que se tornou conhecida como uma das principais estâncias hidrominerais do Brasil — , iniciaram em abril um curso sobre educação alimentar desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). O caráter inovador do projeto envolve uma parte prática em que os professores de cada escola irão se reunir para elaborar um projeto transdisciplinar sobre o tema do curso. O conteúdo está sendo produzido pelo Sustentarea, núcleo de extensão universitária da USP, criado em 2012 — na ocasião, usando o nome “Segunda sem Carne” — com o objetivo de informar e discutir alimentação saudável e sustentável baseada em evidências científicas, e promover mudanças positivas nos hábitos alimentares e de vida de pessoas e instituições.

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“A parceria entre o Sustentarea e a Secretaria de Educação de Águas de Lindoia começou durante a pandemia da covid-19, com o desenvolvimento de materiais educativos sobre alimentação e sustentabilidade para merendeiras, professores e alunos”, explica a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora do Sustentarea.

“Foi uma parceria que deu tão certo que resolvemos expandi-la, agora codesenvolvendo um curso para professores sobre educação alimentar e nutricional e também sobre sustentabilidade, uma vez que são temas transversais que devem ser inseridos nas aulas, mas a respeito dos quais os professores não têm formação específica.”
educação alimentar
A parceria entre a USP e a Secretaria de Educação aconteceu durante a pandemia, “com o desenvolvimento de materiais educativos sobre alimentação e sustentabilidade para merendeiras, professores e alunos”, explica a nutricionista Aline Martins de Carvalho
Foto: arquivo pessoal

Intitulado Educação alimentar para a saúde planetária, o curso tem como objetivo fomentar o debate sobre esses temas, englobando aspectos como sistemas alimentares, alimentação saudável, cultura alimentar, direito humano à alimentação adequada e segurança alimentar e nutricional, sob o prisma da sustentabilidade. Com formato híbrido e abordagem teórico-prática, ele pretende “fomentar a literacia em sistemas alimentares, com olhar crítico e o estímulo ao uso de metodologias ativas em sala de aula”. A alimentação será abordada como tema contemporâneo transversal, previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fornecendo “ferramentas práticas para que professores e gestores desenvolvam e implementem projetos integradores na área”.

A parte online será realizada na plataforma Moodle, pelo site de cursos de extensão da USP. Ali, serão disponibilizadas seis apostilas criadas pelo Sustentarea, que compõem o material teórico principal, sobre temas como sistemas alimentares, fundamentos da educação alimentar e nutricional (EAN), planejamento em EAN, práticas de EAN no cotidiano escolar e EAN e sistemas alimentares como temas contemporâneos transversais. A plataforma trará ainda vídeos e outros materiais complementares, e um quiz para a avaliação da aprendizagem a cada unidade. As etapas presenciais serão compostas por dois encontros na Secretaria de Educação de Águas de Lindoia, entre a equipe do Sustentarea e os professores da rede.

O curso será obrigatório para as escolas vinculadas ao município. Em semanas alternadas, os professores terão acesso à apostila correspondente à unidade que será trabalhada, os materiais complementares, o quiz e um fórum de discussão online que será mediado pela equipe do Sustentarea. Essas atividades serão individuais e serão intercaladas com atividades coletivas. Ou seja, em uma semana os professores leem a apostila, acessam os materiais complementares, realizam o quiz e participam do fórum. Na seguinte, todos os profes­sores de cada escola se reúnem em seu horário de reunião coletiva (HTPC) para realizar uma atividade em grupo que consiste na elaboração em etapas de um projeto transdisciplinar, aplicável à realidade da escola, a partir dos conhecimentos desenvolvidos no curso. 

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Escute nosso episódio de podcast:

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“Desejamos que este curso em parceria com o Sustentarea seja uma oportunidade de continuarmos aprendendo para podermos cada vez ensinar melhor”, afirma Ana Cristina Bueno Fernandes, secretária municipal de Educação de Águas de Lindoia. “O tema é importante e oportuno para toda a comunidade. Então, esperamos que os educadores aproveitem essa experiência, tendo benefícios para suas próprias vidas e, assim, se tornando também exemplos e inspiração para nossos alunos.” Embora o lançamento do curso tenha acontecido em abril, as atividades com os professores da cidade tiveram início ainda em 2022, quando foi realizado um questionário para avaliar o grau de conhecimento sobre o tema. As respostas foram importantes para compreender quais conteúdos deveriam ser abordados nas apostilas.

educação alimentar
Educação alimentar
Foto: shutterstock

Em 7 de fevereiro de 2023, houve um evento de pré-lançamento do projeto, em Águas de Lindoia. Aline fez uma palestra sobre alimentação saudável e sustentável para os professores. Além disso, foram realizados sorteios de cestas de frutas e sucos doados pelos agricultores da cidade que fornecem produtos para a alimentação escolar. Também houve sorteios de livros e de outros materiais informativos e educativos.

Ainda no início do curso será aplicado outro questionário (que possibilitará, ao final do projeto, em junho, avaliar o seu impacto no conhecimento, motivação e percepção de autoeficácia dos professores sobre o assunto). A equipe do Sustentarea poderá repetir a experiência em parceria com outras redes municipais de ensino, desde que seja feito um diagnóstico, como em Águas de Lindoia, para verificar se há necessidade de adaptação do material teórico. Seria preciso também fazer todo o acompanhamento do curso, envolvendo avaliação de professores, encontros presenciais e feedbacks em relação à elaboração do projeto por cada escola. Por isso, o curso só pode ser realizado em um município por vez.

Saiba mais

Conheça as atividades do Sustentarea, núcleo de extensão universitária da USP: https://www.fsp.usp.br/sustentarea/

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Leia: Projetos de educação alimentar nas escolas buscam mudar hábitos familiares

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O que é o sistema alimentar?

O sistema alimentar é mediado por diversos atores, os quais têm importante influência no controle e na transformação desse sistema. Os governos, por exemplo, devem desenvolver políticas para o enfrentamento da fome e garantir os direitos humanos. Já os movimentos sociais têm um papel importante na conscientização da sociedade civil, mas também na geração de atenção, informando as políticas e a responsabilidade dos governos.

Pensando nos consumidores, existem algumas atitudes e escolhas individuais que podem contribuir para a promoção de um sistema alimentar mais saudável e sustentável. Alguns exemplos:

Compre localmente

Comprar alimentos localmente é uma iniciativa que fortalece o trabalho de pequenos agricultores, diminui o trajeto do alimento, além de garantir produtos mais frescos e saudáveis à mesa.

Prefira alimentos de origem vegetal

A produção de alimentos de origem animal é um dos maiores contribuintes para as alterações climáticas. Assim, dar preferência a alimentos de origem vegetal é fundamental para promover sistemas alimentares mais sustentáveis.

Escolha alimentos da época

O período de safra de um alimento é a época em que aquele produto melhor se desenvolve devido a condições climáticas, oferecendo melhor qualidade nutricional e sabor, uma vez que está no auge de sua produção.

Evite o desperdício de alimentos

Existem diversos impactos ambientais causados pelo desperdício de alimentos, dentre os quais podemos destacar a geração de resíduos orgânicos, desperdício de água e energia na produção e desperdício de recursos financeiros que poderiam ser aplicados em outras áreas.

Faça uma horta caseira

O plantio do próprio alimento promove a consciên­cia sobre a própria alimentação, a valorização do tempo de colheita, a redução da compra e desperdício, além de poder servir de inspiração para cozinhar uma boa refeição.

Fonte: Material da apostila 1 do curso Educação Alimentar para a saúde planetária



O que são o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e à Segurança Alimentar e Nutricional?

O DHAA é o reconhecimento da alimentação como direito humano fundamental, que deve ser assegurado pelos Estados. De acordo com isso, os Estados têm a obrigação de garantir o acesso permanente de todos os cidadãos à alimentação segura e nutritiva e estarem livres da fome. Para a realização plena do DHAA, essa alimentação deve ser disponível em quantidade suficiente, ser culturalmente aceitável, além de produzida e consumida de modo sustentável. O DHAA é um direito inseparável de outros fundamentais para garantir a dignidade humana.

A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é a rea­lização do DHAA, baseada em seis dimensões, descritas resumidamente a seguir:

Disponibilidade: ter alimentos em qualidade e quantidade suficientes para garantir as necessidades nutricionais básicas dos indivíduos, sendo eles livres de substâncias prejudiciais, e culturalmente aceitáveis.

Acesso: ter a possibilidade de adquirir alimentos saudáveis, em quantidades adequadas, sem comprometer outras necessidades básicas; significa que a alimentação adequada deve estar ao alcance de todos, incluindo indivíduos e grupos vulneráveis.

Utilização: ter uma dieta adequada, acesso à água limpa, ao saneamento básico e aos sistemas de saúde, de modo a alcançar o bem-estar nutricional e a preservação das funções fisiológicas.

Estabilidade: capacidade de garantir a SAN em acontecimentos repentinos, tais como conflitos, crises econômicas e eventos climáticos extremos), ou cíclicos (insegurança alimentar sazonal).

Agência: capacidade dos indivíduos de tomar decisões e realizar ações para melhorar sua saúde e bem-estar, bem como se engajar em processos mais amplos e coletivos envolvendo a SAN.

Sustentabilidade: capacidade de garantir a SAN das gerações atuais, sem comprometer economicamente, socialmente e ambientalmente a capacidade de garantir a SAN das gerações futuras.

Fonte: Food security and nutrition: building a global narrative towards 2030, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (2020). Disponível em: https://www.fao.org/3/ca9731en/ca9731en.pdf

Material da apostila 2 do curso Educação alimentar para a saúde planetária



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Autor

Sérgio Rizzo


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