NOTÍCIA
Medida mais implementada é a automatização ou informatização das cobranças de mensalidade, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Data Popular para a revista Educação
Quando chegamos ao sexto tópico apontado entre as ações implementadas como bem-sucedidas é que vemos a primeira ação voltada diretamente ao professor. Trata-se da capacitação e treinamento dos docentes para utilização dos recursos tecnológicos. Em relação ao total, 49% dizem ter implementado a ação e que ela funcionou bem, contra outros 15% que implementaram sem colher os resultados esperados.
Nesse caso, há dois aspectos importantes a ressaltar: o primeiro deles é que o índice de resultados negativos é muito alto, superando os 20% daqueles que optaram por fazer ações nesse sentido. O ponto fora da curva vale a reflexão: as capacitações não foram bem planejadas, os instrumentos didáticos não dialogaram bem com os educandos (no caso, os professores), ou que outras respostas seria possível apontar? Ponto importante tanto para evitar o desperdício de recursos como para pensar se projeto pedagógico e ferramentas estão falando a mesma língua.
O outro aspecto é relativo ao resultado geral da pesquisa, apresentado em reportagem na edição passada de Educação, que apontava que encontrar professores qualificados e com boa formação é a principal preocupação da maioria dos gestores das escolas particulares. Ora, se é difícil encontrá-los no mercado, pois eles se formam em número cada vez menor em relação ao necessário e as faculdades, no geral, realizam essa formação de forma precária, os colégios não deveriam estar realizando mais ações formativas? E estas não deveriam estar mais ligadas a questões e estratégias didáticas? Ou as escolas estão resumindo os desafios didáticos à utilização de aparatos tecnológicos ou softwares inovadores?
Como disse o consultor José Ernesto Bologna ao comentar a pesquisa, esta não é uma missão que será resolvida apenas pelas faculdades, com um salto no nível de qualidade da formação. É uma questão que só terá resposta adequada quando se tornar objeto de atenção efetiva da sociedade como um todo.
Com o mesmo índice de gestores que a introduziram de forma bem-sucedida em relação às capacitações está a implantação de softwares de gestão, com 49% do total. No entanto, outros 10% patinaram na escolha ou na introdução desses softwares, apontando a ação como algo que não funcionou bem.
Por outro lado, quase a metade dos gestores (48%) disseram ter investido na aquisição de conhecimento técnico em administração ou gestão financeira para melhorar sua performance e a de seu negócio. Outros 11% apontam ter feito o investimento, porém sem o retorno desejado.
De todo jeito, os dois movimentos – a busca por melhores instrumentos de gestão e por mais conhecimento – mostram uma necessidade cada vez mais constante de ter uma melhor visão administrativa da escola, o que dá possibilidade de realizar ações mais efetivas.
Quando o foco da pesquisa recai sobre quais são as ações que os gestores enxergam como necessárias para suas instituições, mas que, por um motivo ou por outro, ainda não foram implementadas, a sensação é a de que estão respondendo às questões de momento e postergando decisões sobre aspectos essenciais da escola. Em alguma medida, isso pode ser reflexo da crise econômica que se faz sentir nos colégios desde 2015, pelo menos.
A questão mais mencionada entre todas aquelas que estão sendo postergadas é a formação dos sucessores que deverão assumir a escola no futuro. Do total, 46% apontam esta ação como necessária mas ainda não realizada; 22% a levaram a cabo com sucesso e outros 9% não foram bem-sucedidos. Chama atenção também que 23%, ou quase ¼ dos gestores, não consideram a questão da formação do sucessor como importante.
Para o consultor Eugenio Cordaro, da Corus Consultoria, é como se os gestores não tivessem tempo para pensar numa questão tão fundamental. “Há duas hipóteses em que precisam de apoio de psicanálise: quando os sócios não se dão, ou quando o sucedido não quer fazer a sucessão e o sucessor quer. Aí a escola vira uma confusão, com dupla orientação”, relata.
Outra questão que vem sendo protelada por 34% das escolas é a adoção de um projeto educacional mais democrático e plural, o que poderia envolver maior participação dos alunos em várias instâncias e a promoção de ações que possibilitassem aos estudantes o contato com outras realidades sociais.
Vista cada vez mais como uma necessidade de renovação das escolas, vital para interagir com sucesso com as novas gerações, a adoção desses novos projetos mais abertos já foi realizada com sucesso por 46% dos colégios pesquisados; outros 5% viram seus projetos frustrados nesse quesito.
Outras questões que despontam como presentes na fila de espera de realização dos gestores são, no plano administrativo, a adoção de novos softwares e a aquisição de conhecimentos técnicos em administração e gestão e, no plano pedagógico, a criação de condições para que os alunos possam estudar no exterior (por meio de intercâmbio, diploma de high school ou preparo para faculdade) e a introdução do ensino bilíngue.
Aspectos cuja presença, por si só, já parece indicar qual o desenho o mercado e os próprios gestores estão fazendo para construir escolas mais robustas: que tenham um ótimo corpo docente, agilidade administrativo-financeira (o que inclui bom atendimento), oferta de novidades didáticas e tecnológicas e de uma formação sintonizada com os tempos de internacionalização da educação.
Para serem bem-sucedidos, os gestores não podem apenas se deixar atropelar pelas necessidades de momento e negligenciar as questões de fundo, que são a alma da escola. Bons professores incluídos.
http://www.revistaeducacao.com.br/encontrar-bons-docentes-e-o-maior-desafio-para-gestores-de-escolas-privadas/