NOTÍCIA
Para os professores brasileiros dos ensinos fundamental 1 e 2 e do ensino médio, os desajustes emocionais dos alunos prejudicam a escola, provocando indisciplina, defasagem de aprendizado e situações com as quais os docentes não estão preparados para lidar senão com o apoio de uma equipe escolar mais sólida e composta por especialistas diversos.
Essa é uma das conclusões que podem ser depreendidas da análise dos resultados da segunda edição da pesquisa Conselho de Classe, encomendada pela Fundação Lemann ao Ibope, que mistura um levantamento quantitativo com 1,6 mil professores à aferição qualitativa, feita com três grupos de três cidades brasileiras. A amostra, dizem os organizadores, é representativa da população docente brasileira nessas etapas da educação básica. São majoritariamente mulheres (79%), em especial no fundamental 1 (94%), na faixa dos 40 a 49 anos (38%, média geral de 41,1 anos), docentes do fundamental 1 (43%). Destes, 70% formados em pedagogia, outros 27% no magistério (ensino médio).
Segundo os organizadores, quatro temas surgiram com mais força. O primeiro deles foi considerado a maior urgência: a falta de acompanhamento psicológico para alunos que o necessitam (segundo a avaliação dos próprios professores). O segundo, o maior desafio: a defasagem dos estudantes em termos de aprendizagem, em especial os do ensino médio.
Os outros dois temas estão ligados à carreira: para os docentes, as prioridades deveriam ser investimentos em formação continuada, melhorias salariais e dos planos de carreira. Por fim, a pesquisa indica que 70% dos docentes fizeram algum tipo de formação continuada no ano anterior ao levantamento, realizado em 2015.
O item apontado como maior urgência pelos docentes coincide com outras pesquisas em que há prevalência de responsabilização das famílias como causa do insucesso escolar. Ao que parece, os professores se sentem desamparados para lidar com realidades que lhes fogem ao controle, o que é reforçado pelo percentual de docentes que gostariam de contar com apoio psicológico para alunos e para eles próprios, professores (96%), extensivo às famílias (90%). Números que reforçam a recorrência da doença do esgotamento profissional, chamada de Síndrome de Burnout, no âmbito da educação.
Os docentes dizem ser mais apoiados em suas dificuldades cotidianas por diretores (73%) e coordenadores pedagógicos (68%), evidenciando a importância estratégica dos gestores. Mas se ressentem da falta de outros profissionais que, acreditam, deveriam ser oferecidos pelas secretarias de Educação, tais como psicólogos (50%), psicopedagogos (28%), assistente social (8%) mediador de conflitos (7%) e fonoaudiólogo (4%).
Ao responder quais fatores deveriam ser enfrentados com maior urgência, os professores citaram um fator mais urgente e fizeram uma segunda lista, com três fatores. Na primeira, a necessidade de acompanhamento psicológico foi a mais citada (22%), seguida pela indisciplina (15%) e pela defasagem na aprendizagem (10%). Na segunda, a indisciplina apareceu em primeiro lugar, com 32%, seguida pela falta de acompanhamento psicológico e pela “aprovação de alunos que não estão preparados para o próximo ciclo”, ambos com 31%.