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Edição 228

Uso da língua materna é importante para o aprendizado das crianças indígenas

Apesar de ser 1% do total, número de professores indígenas cresceu 56% desde 2009

Publicado em 04/04/2016

por Mariana Ezenwabasili

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Quarenta por cento da população mundial não tem acesso à educação por meio de sua língua materna. O dado faz parte do estudo If you don’t understand, how can you learn? (Se você não entende, como pode aprender?, em tradução livre) divulgado  pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Segundo o levantamento, ser educado em outra língua que não a materna pode ter um impacto negativo na aprendizagem das crianças e jovens, principalmente dos mais pobres. Essa é uma realidade que atinge muitos indígenas no Brasil e a população de países de colonização mais recente (meados do século 19 e início do 20), onde há uma enorme diversidade de dialetos no mesmo território, como em nações africanas e asiáticas.
A Unesco destaca que o baixo número de professores de Educação Básica oriundos de minorias étnicas e linguísticas colabora para esse cenário. “Há menos membros desses grupos disponíveis e qualificados para serem recrutados como professores”, diz trecho do estudo.
No Brasil, dados do Censo da Educação Básica 2014 (últimos completos disponíveis) mostram que os indígenas representam 1% dos 2,19 milhões de professores de Educação Básica. Entre 2009 e 2014, o número do grupo entre os docentes aumentou 56,3%, passando de 7.412 para 11.585. Os alunos indígenas também representam 1% do total de estudantes da educação infantil ao ensino médio, que somam 49,77 milhões. Entre 2012 (ano em que o Inep passou a divulgar dados de matrícula segundo sexo e raça/cor) e 2014, as matrículas de alunos indígenas cresceram 6%, de 258,8 mil para 274,5 mil.
Os percentuais de indígenas entre os demais alunos e professores brasileiros são baixos, porém maiores do que os registrados no Censo Demográfico 2010. O levantamento do IBGE aponta que os indígenas são 0,43% de todos os residentes em domicílios do país – mesmo índice observado nos anos 2000; o aumento dessa população em uma década foi de 11%, de 734,1 mil para 817,9 mil.
O Censo 2010 também revela que 37% dos indígenas de 5 anos de idade ou mais falam sua língua materna em casa, enquanto 17% não falam português. Quando considerados somente aqueles que vivem em terras indígenas, o percentual de falantes de línguas indígenas no domicílio aumenta para 57%, e o daqueles que não falam português chega a 29%. Ainda segundo o Censo 2010, existem no Brasil 274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes.
Segundo a Unesco, uma revisão dos planos de educação de ao menos 40 países em todo o mundo mostra que “menos da metade deles reconhecem a importância do ensino da língua materna, particularmente em séries iniciais”.
O órgão recomenda que “pelo menos seis anos de ensino da língua materna na educação formal devem ser oferecidos em escolas de comunidades etnicamente diversas”. “Programas de educação bilíngues ou multilíngues devem ser oferecidos para facilitar a transição para o ensino das línguas oficiais”, diz um dos trechos finais do documento.

Autor

Mariana Ezenwabasili


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