Cristiane Capuchinho, da revista Neuroeducação
© Secretaria de Educação do Rio de Janeiro
Aos 12 anos, Matheus estava matriculado no 5º ano de uma escola municipal em Macaé (RJ). Nada de estranho não fosse o fato de, passada metade do ensino fundamental, ele ainda não ser capaz de ler ou escrever. O menino tem baixa visão acentuada e algum déficit cognitivo. Suas necessidades especiais, no entanto, não explicam as razões de ter sido aprovado ano após ano sem aprender as habilidades esperadas.
“O caso dele é comum. A escola não sabe lidar com esse estudante que é diferente e o vai jogando para a frente, sem problematizar as razões de ele não ter aprendido”, comenta Garrolici Alvarenga, coordenadora de educação especial da rede municipal de Macaé e mestranda da Uerj.
A coordenadora conta que, apesar de laudos da criança desde os 5 anos sugerirem trabalhos de psicopedagogia para aprendizado adequado, ela não teve o acompanhamento indicado. “Comecei a acompanhar o caso de Matheus em 2012. Desde então, tentamos uma alfabetização com uso de computador para ajudar em sua baixa visão. Mesmo ele passando por escolas em que havia sala de recursos multifuncionais, eu não consegui que ele tivesse isso porque faltava conhecimento profissional”, aponta.
O estudante continuava frequentando a escola, tinha o auxílio de um professor de apoio, passava horas por semana na sala de recursos que deveria turbinar seu aprendizado e, ainda assim, não era capaz de ler e escrever. “Ele estava na sala de aula junto com crianças da idade dele, mas não participava das atividades realmente porque ainda não estava alfabetizado. Participava apenas verbalmente e com muita dificuldade em entender o conteúdo.”
O ponto de virada aconteceu em 2013, quando os professores deveriam decidir se Matheus seguiria para o 6o ano do ensino fundamental e iria, assim, para uma nova escola. Em uma reunião com a equipe pedagógica e a coordenação da educação especial, o aluno foi retido. “Batemos o pé, não o deixamos passar para o 6o ano e ter dez disciplinas. Tivemos também o aval da mãe. E foi assim que conseguimos algum avanço. A educação especial não preconiza que não haja repetência, desde que haja razão para isso e um plano individualizado para o aluno.”
Em 2014, Matheus então foi para uma nova escola em que um professor cego, Raul Ferraz, trabalhava na sala de recursos. Ferraz trabalhou com avaliação interativa e fez plano com tecnologia assistida (com ajuda do computador) para alfabetizá-lo. O professor de apoio e a avaliação interativa ajudaram Matheus a alcançar um grau crescente de autonomia em situação de solução de problemas. Assim, o menino adquiriu consciência da leitura e escrita através da tecnologia assistida e pôde então desenvolver suas habilidades na escola. “Tornou-se o incentivo da turma”, relata Alvarenga. “A questão é você trabalhar mesmo as capacidades da criança. Após esse trabalho, Matheus conseguiu associar as coisas que eram faladas com o que ele agora lia. Ele se desenvolveu, e este é o papel da escola.”